terça-feira, março 07, 2006

Algodão e Melancolia - O Blues



Começa pela tradução da palavra. “Blues” quer dizer melancolia no jeito peculiar de falar dos habitantes do delta do rio Mississipi, berço do ritmo. E melancólicas são as raízes do blues. Ele começou a surgir em agosto de 1619, quando o primeiro navio negreiro atraca na costa-americana. Nos porões, negros arrancados à força da África para o trabalho forçado em lavouras de algodão, tabaco e milho nas cercanias de New Orleans, nos estados de Alabama, Mississipi, Lousiana e Georgia.
No espírito dos desafortunados escravos, uma profunda saudade do que ficou para trás e uma rica cultura folclórica amordaçada. Mas a musicalidade latente dos africanos não tardaria a se manifestar. Aos poucos, surgem as “work songs”, verdadeiros lamentos melódicos, entoados pelos negros na árdua tarefa de plantar e colher os produtos da terra. Enquanto uma voz entoava um verso, os outros trabalhadores faziam o coro. No início, nas línguas nativas: fon, bantu e yorubá; com o passar do tempo, uma mescla de palavras de dialetos africanos e inglês, incorporado na convivência com os fazendeiros da região. Tudo a capela, de uma froma primitiva mas não menos visceral, sentimental e sempre rítmica. É a primeira manifestação musical dos negros na América que começavam a erguer com o sacrifício da liberdade perdida em pontos diferentes da África. A Guerra da Secessão, vencida pelo norte, representa a liberdade para os negros escravos do sul em 1865. Nessa época, em New Orleans havia cinco negros para cada quatro brancos. Muitos desses negros são netos e bisnetos dos pioneiros escravos. Os recém libertos também cantam e tocam, com a diferença de pelo menos um século de assimilação da cultura branca. Começa a surgir assim a figura do blueseiro, ainda com um banjo em lugar da guitarra. Como o blues é uma música vocal por natureza, em sua versão instrumental o ritmo exige instrumentos de habilidade vocal, capazes de “imitar” a voz humana. E nada melhor para se obter este efeito do que a técnica de “knife-song”, de deslizar sobre as cordas do violão uma placa metálica para se obter um som lamurioso, que mais parece um gemido humano. Assim a guitarra acústica desbanca o banjo e passa a frequentar os braços, mãos & dedos dos blueseiros. Instrumentos de percussão de origem africana como o djambè e harmônica, com sua versatilidade, complementam o kit básico do blues primordial, que não dispensa a interpretação, o sentimento absoluto no cantar.
A esta altura as canções já não são apenas lamentos, mas também bravatas, histórias de rixas terminadas com filetes de sangue manchando de vermelho as lâminas de navalhas, de mulheres conquistadas, de corações despedeçados. Agora o inglês prepondera sobre os dialetos africanos nas letras e o blues já é uma música americana, feita por negros e cada vez mais amada pelos brancos. Chega o rádio, o gramofone, o show-business. Surgem cantoras como Bessie Smith e guitarristas blueseiros como Ottis Redding. E isso tudo é só o começo de uma longa história regada a paixão pela música e litros e mais litros de Jack Daniels.

O Jazz



História do Jazz

Nascido do blues, das work songs dos trabalhadores negros norte-americanos, do negro spiritual protestante e do ragtime, o jazz passou por uma extraordinária sucessão de transformações no século XX. É notável como essa música se modificou tão profundamente durante um período de apenas um século.
O termo jazz começa a ser usado no final dos anos 10 e início dos anos 20, para descrever um tipo de música que surgia nessa época em New Orleans, Chicago e New York. Seus expoentes são considerados "oficialmente" os primeiros músicos de jazz: a Original Dixieland Jass Band do cornetista Nick LaRocca, o pianista Jelly Roll Morton (que se auto-denominava "criador do jazz"), o cornetista King Oliver com sua Original Creole Jazz Band, e o clarinetista e sax-sopranista Sidney Bechet. Em seguida, vamos encontrar em Chicago os trompetistas Louis Armstrong e Bix Beiderbecke, e em New York o histriônico pianista Fats Waller e o pioneiro bandleader Fletcher Henderson. Em 1930 o jazz já possui uma "massa crítica" considerável e já se acham consolidadas várias grandes orquestras, como as de Duke Ellington , Count Basie , Cab Calloway e Earl Hines.
A evolução histórica do jazz, assim como da literatura, das artes plásticas e da música clássica, segue um padrão de movimento pendular, com tendências que se alternam apontando em direções opostas. Em meados dos anos 30 surge o primeiro estilo maciçamente popular do jazz, o swing , dançante e palatável, que agradava imensamente às multidões durante a época da guerra. Em 1945 surge um estilo muito mais radical e que fazia menos concessões ao gosto popular, o bebop , que seria revisto, radicalizado e ampliado nos anos 50 com o hard bop . Em resposta à agressividade do bebop e do hard bop, aparece nos anos 50 o cool jazz , com uma proposta intelectualizada que está para o jazz assim como a música de câmara está para a música erudita. O cool e o bop dominam a década de 50, até a chegada do free jazz, dando voz às perplexidades e incertezas dos anos 60. No final dos anos 60, acontece a inevitável fusão do jazz com o rock, resultando primeiro em obras inovadoras e vigorosas, e posteriormente em pastiches produzidos em série e de gosto duvidoso. Hoje existe espaço para cultivar todos os gêneros de jazz, desde o dixieland até o experimentalismo free, desde os velhos e sempre amados standards até as mais ambiciosas composições originais para grandes formações. Mas qual seria o estilo de jazz próprio dos dias de hoje? Talvez o jazz feito com instrumentos eletrônicos - samplers e sequenciadores - num cruzamento com o tecno e o drum´n´bass. Se esse jazz possui a consistência para não se dissolver como tantos outros modismos, só o tempo dirá...
Para todos os amantes de Jazz deixo aqui a minha sujestão, um fabuloso album de Milles Davis Kind of Blue..